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Retrospectiva Idéias e etc de 2008


É inevitável. Nessa época do ano, ela sempre aparece na programação das emissoras de TV, rádio e de alguns portais da internet. É uma tradição, assim como o panetone, o especial do Roberto Carlos, a São Silvestre e ficar bêbado no reveillon. Estou falando das Retrospectivas jornalísticas. Para entrar no espírito das festividades, o Idéias e etc mobilizou toda sua redação-composta de uma única pessoa- e, num grande esforço de reportagem, apresenta alguns fatos marcantes de 2008. Não todos os fatos, que seria algo muito enfadonho, mas apenas aqueles que, no nosso julgamento, foram os mais sugestivos. Também não existe uma preocupação cronológica, nem mesmo lógica. É apenas um recorte comentado desse ano completamente maluco. Tudo explicado, deixo vocês com a…

RETROSPECTIVA 2008

O ano em que o circo midiático pegou fogo e o palhaço saiu chamuscado

O jornalismo policial e/ou sensacionalista fez a festa em 2008. Não faltou pautas, nem tragédias para saciar o público sedento por sague. No final de março, teve o caso Isabela que mobilizou a imprensa por semanas. Todas as investigações e evidências apontam como culpados o pai e a madrasta da garota. Os dois estão presos. Mas até o caso sair da pauta da imprensa muita coisa aconteceu. Foram feitas duas perícias, uma delas encomendada pelos réus e que, surpreendentemente, apontou a inocência deles; teve a reconstituição do crime, acompanhada tal e qual um jogo de futebol por alguns veículos de comunicação  (“É emocionante, torcida brasileira! Nesse momento, os peritos estão jogando um boneco do apartamento. É impedimento, Arnaldo?”), sem falar na cobertura 24 horas do caso em todos os telejornais. Só faltou venderem pay per view…

Outro caso que teve vocação para virar pacote pay per view, foi o seqüestro da garota Eloá, em outubro. Foi uma sucessão incrível de lambanças: da polícia, que permitiu o retorno da Nayara e se deixou levar pela psicopatia de Lindemberg; da imprensa como um todo, que praticou muito sensacionalismo e pouco jornalismo. Dois momentos foram especiamente marcantes: Sonia Abrão bancando a “negociadora” e colocando a vida das reféns em risco e, quando a tragédia já estava consumada, a barriga passada pelo governador José Serra a Folha online, adiantando em 24 horas a morte de Eloá.

Não posso fechar esse tópico sem ao menos uma menção honrosa ao  padre voador, que propiciou ótimas piadas, de black humor, aos humoristas.

O ano em que brincaram de prende e solta com Daniel Dantas

Nem a mais tarimbada das ciganas conseguiria prever o que aconteceu no dia 18 de julho deste ano. As televisões amanheceram anunciando a prisão do Banqueiro Daniel Dantas, do ex-prefeito Celso Pitta e do Naji Nahas, comparsa dos dois. Tudo isso na operação Satiagraha, nome que tem um significado hindu, mas eu estou com muita preguiça de pesquisá-lo no Google.

Começou, então, uma novela com trama pra lá de rocambolesca, com direito a prende-solta-prende-solta do protagonista orelhudo, habbeas corpus à jato; não faltou nem tentativa de suborno, filmada, a integrantes da polícia federal. Esse episódio operou uma mágica em alguns setores da sociedade e fez com que, de repente, algumas pessoas achassem que as algemas eram uma grande humilhação.

Na verdade, esse folhetim não começou em 2008 e nem vai terminar nesse ano. Ele está longe do fim. Todos os dias, os jornais acrescentam novos capítulos. E são poucos os Brasileiros que conseguem acompanhar essa trama sem se perder no cipoal de negociatas, chantagens, grampos e golpes os mais diversos. O delegado Protógenes Queiros era um deles, mas foi estranhamente afastado do caso, para fazer um “curso de qualificação”. Em tempo: recentemente, o Juis Fausto de Sanctis condenou Dantas a dez anos de prisão, mas o banqueiro pode recorrer ao processo em liberdade…

Dantas by Duke

Dantas by Duke

O ano em que o Brasil soube quem era Gilmar Mendes e não gostou nada disso

Para a maioria da população, ele era um ilustre desconhecido. Só era famoso mesmo nos meios jurídicos ou entre alguns jornalistas especializados. Mas entrou feito um furacão no noticiário quando deu dois Habbeas corpus seguidos para o Daniel Dantas, o que deixou muita gente, inclusive juristas experientes, com a pulga atrás da orelha. Em setembro, a revista Veja publicou uma “reportagem” que apresentava um suposto grampo, entre ele e o Demóstenes Torres, senador dos demo-cratas. Digo suposto pois  até hoje só quem ouviu essa fita foram os repórteres do tablóide da Abril. Ninguém mais. Em outubro, a revista Carta Capital procurou e achou muita coisa estranha na vida do Supremo Meritíssimo. Estou falando de Gilmar Mendes, claro. Não resta nenhuma dúvida que esse sujeito continuará fazendo parte do noticiário. Gostemos, ou não, dele.

Pergunta importante: alguém sabe se existe reeleição para presidente do STF?

O ano em que a crise financeira bombou, ou bancos fundiram-se e muita gente se fu$%$d##e%$$$u&

operadoresdaboldaDia 15 de setembro de 2008. Os cadernos de economia informam que o banco Lehman Brothers irá pedir concordata. Até então, muita gente nem sabia da existência dessa instituição, quanto mais que ela estava na pindaíba. Apartir desse dia, a crise econômica entrou no noticiário e nas nossas vidas; e tudo indica que vai demorar para sair. Os jornais e revistas gastaram laudas e mais laudas para tentar explicar o rolo todo, mas devo confessar que não é moleza entender o linguajar do economês; a relação entre liquidez e derivativos, junto com o problema do mercado imobiliário americano. É mais fácil sentir as conseqüências. Nos EUA, as montadoras tiveram que pedir penico-e mais 14 bilhões de dólares-, para não decretar falência. O dinheiro saiu de um pacote maior, de 700 bilhões de dólares, que o senado americano aprovou, muito a contra gosto, para que o caos não se instalasse de vez.

Por aqui, não se sabe ao certo o tamanho da crise – se vai ser uma marolinha ou um tsunami. O fato inegável é que, por enquanto, estamos sentindo apenas uma pequena gripe; enquanto o mundo procura se livrar da pneumonia. Ainda no bloco econômico, tivemos algumas notícias interessantes em 2008: no fim de Abril, o país recebeu o tal de investment grade, que parece ser algo muito importante, pois os jornais todos comemoraram e o governo também. No começo de setembro, houve a coleta experimental do petróleo da camada pré-sal. Ainda não se sabe como será a exploração do ouro negro. A dúvida está entre criar uma nova estatal ou deixar a exploração com a Petrobras. No começo de novembro, outra notícia balançou os alicerces do jornalismo econômico: a fusão do Itaú e do Unibanco formando o maior banco do hemisfério sul. Os Salles e os Setubal deram entrevistas para TODOS os jornais e revistas. Parecia release de assessoria de imprensa. Bastava ler uma entrevista para ler todas. O enfoque das reportagens também foi o mesmo, de modo geral elogiando a fusão. Talvez, um dos motivos dessa aclamação coletiva seja o fato que os dois bancos despejem milhões de reais em anúncios na mídia…

…ou será mera coincidência?

O ano em que os republicanos foram enxotados da casa branca e um negro foi eleito presidente dos EUA (Ah, e ainda teve a quase sapatada!)

Ele ficou oito anos no poder e poucos presidentes cometeram tantas lambanças nesse período de tempo. Uma retrospectiva apenas envolvendo a era Bush seria uma crônica cheia de sangue, bombas e terror. Não apenas aquele no qual os Estados Unidos foram vítimas, no 11 de setembro de 2001, mas também o terror causado pelo exército Ianque no Afeganistão e Iraque. E não foi só isso: teve a tortura em Guantanamo, a reeleição, com cheiro de fraude, em 2004 e por aí vai. Talvez, o melhor indicador seja o índice de (in)popularidade o mais baixo da história. Se eu fosse escolher uma imagem para ilustrar a era Bush seria, claro, a quase sapatada do jornalista Iraquiano.

Mas o ano de 2008 permite olhar com algum alento para o futuro. Em novembro, os eleitores confirmaram todas as expectativas mundiais-e a esperança também-, e elegeram Barack Hussein Obama, o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. Um dia histórico. Uma derrota acachapante do candidato republicano Jonh McCain, que, durante a campanha, fugiu do Bush feito o diabo da cruz.

É muito cedo para fazer qualquer prognóstico sobre como será a gestão do Obama. O certo é que o mundo estará do avesso, com a crise na economia, a guerra no Iraque e os EUA em frangalhos. Herança maldita para ninguém botar defeito. Para terminar com bom humor, segue o vídeo com o momento antológico da quase sapatada, seguido de algumas charges, impagáveis, do duke sobre o ocorrido.

A quase sapatada histórica

Duke e a quase sapatada histórica

tanque
sapataria-do-bush

sao-pedro-e-o-sapato

Com esses cartuns maravilhosos, encerramos a retrospectiva 2008. Ficou muita coisa de fora. Quase não comentei nada sobre a política nacional, sobre as eleições municipais, nem sobre as olimpíadas na China. Mas, como  disse na abertura, o objetivo não era tratar de todos os assuntos, mas apenas fazer um recorte comentado desse ano. Certamente, o leitor encontrará um resumo mais completo na imprensa.

Esse também é o último texto de 2008. Para mim, foi um ano muito legal. Fiz novas amizades e aprendi muito. E, certamente, será especial também por marcar o início dessas Idéias e etc. Acredite, leitor: me diverti muito escrevendo nesse blog. Espero que você também tenha se divertido com o que encontrou por essas bandas. Em 2009, vamos continuar acompanhando tudo o que acontece no Brasil, no mundo, além de continuarmos fazendo marcação cerrada sobre a imprensa tupiniquim. Tudo com muito humor e senso crítico. Por ora, resta-nos desejar aquelas coisas bacanas que todo mundo deseja no primeiro dia do ano, mas esquece quando passa a ressaca do reveillon: saúde, paz, dinheiro e amor para todos!

E que venha 2009!

  1. Edu
    28/12/2008 às 2:13 pm

    Muito bom, Marcelo!

    Esse ano tivemos muitos assuntos realmente. Para falar de todos, ou da grande maioria, seria necessário uma “equipe” bem maior.

    Muito legal seus textos com ironia. hehee

    Ah, não sabia que Satiagraha era Hindu. O significado, porém, eu sei: firmeza na verdade.
    ^^

  2. 27/12/2008 às 9:42 pm

    Marcelo, gostei da sua retrospectiva. Realmente esse ano foi marcado pela impunidade administrativa, pelos assassinatos ao vivo (onde a televisão se satisfez) e principalmente pelo maior legado que 2008 levará: a CRISE. Acredita-se que ela levará no mínino dois anos para terminar e nem sabemos como ela começou. Só vimos que a água estava no abdómem quando, naquela segunda-feira, a BMF fechou por duas horas e quando voltou teve uma queda de 15%, fora a alta do dolar, que de 1,57 foi para 2,37. Espero que em 2009 o mundo utilize-se de uma força que está escassa atualmente: o PENSAMENTO!

    Bons pensamentos pra você meu caro amigo e pra todos os leitores desse notável blog!

  3. sammed
    27/12/2008 às 4:31 pm

    Fradim, com seu mix de jornalismo ácido e sutil, vem se aprimorando a cada post…
    cara, esse entao da retrospectiva ficou fantástico…

    que o FORO nos dê força pra continuar na luta contra as injustiças sociais…
    ( e que isso sirva de inspiração pro meu blog, que travou :s )

    bjux, feliz 2009, a gente se vê…

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